O mundo dos chocolates está mudando e ele precisa de um profissional que ainda é raro no mundo e mais raro ainda no Brasil. Nessa profissão:

  • É preciso amar chocolates.
  • Não é necessário entrar na cozinha, nem fazer temperagem de chocolate ou torra de cacau diariamente.
  • Dá para trabalhar de qualquer lugar e com apenas um celular e internet. Claro que um escritório e um computador podem ajudar muito, mas são opcionais.
  • É preciso gostar de estudar sobre chocolates, visitar lojas e fazendas de cacau, conversar com pessoas e, claro, provar chocolates.
  • É bem importante o uso de redes sociais, principalmente Instagram e, eventualmente como complemento, as redes vizinhas.
  • Ser extrovertido é uma vantagem, mas não uma obrigatoriedade.
  • Existe o risco de engordar, dependendo de como você se planejar na profissão.

“Chocolate educator”

Essa nova profissão ainda não tem nome no Brasil, mas lá fora eles chamam de “chocolate educator” a pessoa que ensina sobre chocolates. Em português fica “educador para chocolates”, o que é um termo bem estranho, né? Enfim, o mundo precisa disso porque o mercado de chocolates começou a mudar no final dos anos 90, com a chegada do conceito bean to bar e a revolução na forma de se fazer, escolher e consumir chocolates.

  • Na produção de chocolates: o modo tradicional de produção é o chocolate feito em grande escala pela grande indústria ou o chocolate artesanal feito a partir do chocolate da indústria. Tanto quem faz quanto quem consome não sabe de onde vem  o cacau usado ali (que é cacau comum, claro). A revolução é fazer o chocolate a partir de cacau fino (que tem mais sabor e menos amargor) comprado diretamente de fazendas específicas, o que traz qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade social.
  • Na escolha dos chocolates: antes escolhiamos pelo tipo de chocolate (branco, ao leite ou amargo). Agora a escolha pode ser pela origem, variedade ou safra do cacau, exatamente como nos vinhos.
  • Na forma de consumo: antes a gente apenas comia chocolate. Era tudo muito parecido, cheio de açúcar e aromatizantes, que são usados para modificar o sabor dos alimentos. Agora, com chocolates feitos com cacau fino e sem aromatizantes, existe uma infinidade de sabores naturais a serem experimentados. Já foram identificados mais de 600 compostos aromáticos no cacau. Cada lote de origem diferente, fermentação e torra resulta numa combinação única de notas de sabores. Agora, sim, chocolate pode ser uma verdadeira experiência sensorial e a degustação é a nova forma de consumo.

O mercado

Chocolate education é uma área que ainda precisa ser desenvolvida por aqui, quase do zero, mas tem potencial para crescer muito. Chocolate movimenta bilhões de dólares por ano e o nicho dos chocolates finos, de origem e bean to bar está em expansão. Pode pesquisar. É incrível como todo mundo conhece chocolate e, ao mesmo tempo, sabe-se muito pouco sobre ele e sobre cacau.

Pense no vinho, que lá atrás era só uma bebida e se transformou em um nicho forte, cheio de lojas especializadas, importadoras, sommeliers, eventos de degustação corporativos e privados, enoturismo, concursos, clubes de assinatura, treinamentos para aficcionados e para profissionalização, influenciadores e criadores de conteúdo no nicho etc. São várias os modelos de negócios. Depois, os cafés especiais seguiram esse caminho e já vemos por aí negócios semelhantes. Agora, chocolates seguem essa trilha. Chocolate não é mais aquilo que conhecíamos há 10 ou 15 anos, é outra coisa e consumidores precisam saber disso. É aí que entra essa nova profissão.

Eu vivo nesse mercado há 10 anos, produzi muito conteúdo digital, criei um concurso (o Prêmio Bean to Bar Brasil @premiobeantobarbrasil), fui jurada em outros, fiz eventos de degustação, criei curso online, ensinei e inspirei muita gente. Sozinha, isso foi uma gotinha num oceano de necessidades. Tem muito ainda a ser feito se a gente quer ter chocolates mais naturais e gostosos, quer que as marcas sejam mais transparentes e que o mercado seja mais justo com todos os elos da cadeia produtiva.

Quanto ganha e qual o tamanho do mercado?

Eu não tenho as respostas. Não sei quanto você pode ganhar nisso, quanto tem que investir, qual o tamanho do mercado ou se essa profissão vai ser valorizada como merece. No momento não é, porque quase não existe, mas acredito sinceramente que é uma profissão que o mundo precisa, então se for bem executada, deveria ser valorizada. Consumidores hoje têm interesse em saber a origem e os processos de produção dos produtos que consomem e têm desejo de conhecer novas experiências sensoriais. Quem pode trazer esse conhecimento e proporcionar essas experiências são os chocolate educators. Informação existe em todo lugar, mas informação que de fato ajude o consumidor, que seja confiável, que conecte consumidores a boas marcas, que ajude consumidores a fazerem escolhas conscientes, isso ainda é raro no mercado.

Toda marca e toda loja de chocolates, principalmente bean to bar, faz (ou deveria fazer) um trabalho educativo, então aí é também um espaço onde essa profissão se encaixa. Ou seja, podem existir possibilidades de emprego, de empreender ou mesmo de ser freelancer nas horas vagas.

Quem é chocolate educator hoje

Eu, claro. Vou listar aqui alguns chocolate educators independentes, que eu admiro, para você conhecer. Eles têm diferentes linhas de atuação:

Tem também as instituições:

Reparou que são poucos? É porque o chocolate ainda é visto só como uma guloseima (e é isso que precisa mudar!). Chocolates bean to bar e de origem não são guloseimas, são experiências sensoriais, são história e cultura, eles conectam produtores de cacau com chocolate makers com consumidores. Isso tem muito mais valor porque tem mais sabor, transparência e sustentabilidade. Enquanto um chocolate de mercado custa cerca de 7 reais com 80 gramas (ou 8,75/100gr), um bean to bar custa cerca de 25 reais com 60 gramas (ou 41,60/100gr). Nos Estados Unidos, um bean to bar bom custa geralmente entre 9 e 12 dólares (ou 45 a 60 reais, para 60gr). Não tem nada a ver com chocolate industrializado tradicional.

Para o movimento bean to bar crescer, ele precisa de 3 agentes: produtores de cacau fino (sem cacau fino não existe chocolate bom de verdade), chocolate makers experientes (sem quem transforme o cacau fino em um bom chocolate, ele não existe) e chocolate educators (que mostram para o mundo a beleza de tudo isso, pois os chocolate makers não têm tempo para fazer também o trabalho educativo).

Como entrar nessa profissão

O que você precisa fazer para entrar nessa profissão? Estudar sobre chocolates e cacau e degustar muito chocolates (cuidado! grande chance de você engordar, se não se planejar, mas, sim, é possível manter uma boa saúde trabalhando com chocolates).

Por onde começar? Lendo meus posts aqui e, principalmente, no Instagram. Já postei centenas de micro aulas com a teoria. Você também vai precisar da prática (que é a melhor parte, né?): visite lojas, compre* e prove chocolates, participe de degustações e anote o que você sente de cada chocolate! Faça isso por algumas semanas para ver se realmente isso é para você. Se for, parta para os livros e depois os cursos. Pense em que modelo de negócios seria interessante para você (use o mercado de vinhos e cafés especiais como inspiração) e avalie um possível plano de negócios.

* sim, compre, não peça chocolates: se você quer que seu trabalho depois seja valorizado, primeiro valorize o trabalho dos chocolate makers. É justo que você faça esse pequeno investimento para aprender a degustar.

Com relação a livros, existem vários. Quero contar que escrevi um livro que pode te ajudar muito (era o que eu queria ler quando comecei este blog!). Será lançado em agosto/24. Além desse, também escrevi outro, junto com 6 especialistas em chocolate, que deve ser lançado também até o final de 2024. Eles são diferentes e complementares, ambos indicados para quem quer trabalhar no educativo. O meu é mais voltado para quem quer consumir e degustar chocolates e o das 7 mulheres é para quem empreende ou quer empreender com chocolate. Por enquanto, veja outras dicas de livros aqui e de cursos aqui.

Qualquer dúvida, me chame!