O super fim de semana do chocolate !!!

Esse é um evento que acontece já há alguns anos na Bahia e no Pará, mas só agora tive a oportunidade de conhecer pessoalmente. Esta nona edição foi de quinta (20) a domingo (23/07/17), no Centro de Convenções de Ilhéus na Bahia. Para mim foi mais longo, estendi o fim de semana até terça-feira (25) para visitar fazendas de cacau.

A Bahia sempre foi o grande pólo nacional de produção de cacau e a região de Ilhéus  era riquíssima até o final dos anos 80 quando as plantações foram dizimadas por uma praga, a vassoura de bruxa. A recuperação que começou há alguns anos é nítida e já coloca o Brasil novamente entre os 10 maiores produtores mundiais. Tive a oportunidade de visitar 4 fazendas enquanto estive na cidade, e conto mais em um próximo post.

Claro que um festival do cacau e do chocolate tinha que acontecer mesmo na Bahia. O Chocolat Bahia teve vários eventos acontecendo ao mesmo tempo, para todos os gostos e idades.

  • Feira do Chocolate (stands de marcas de chocolates)
  • Fórum do cacau e chocolate (discussões e palestras sobre o mercado do cacau)
  • Chocoday (discussões e palestras sobre o mercado do chocolate)
  • Cozinha Show (workshops de gastronomia com chocolate)
  • Cozinha Kids (atividades com chocolates para crianças )
  • Ateliê do Chocolate (esculturas de chocolates)
  • Pavilhão de economia criativa (artesanato e arte popular)
  • Espaço cultural do cacau (apresentações musicais)
  • Exposição de bolos artísticos
  • Corrida de rua (Cacau Running)

Feira, Chocoday e Fórum

Meu foco é o chocolate como protagonista e não como coadjuvante em outras receitas, portanto fui direto na Feira do Chocolate e assisti palestras do Fórum e do Chocoday. Até dei uma volta em tudo, vi o restante do evento e notei que estava lotado, todo mundo interessado em todas as atividades e gostando muito.

Em termos de marcas de chocolates, eu conhecia muitas delas, pois elas estiveram em São Paulo recentemente na feira Natural Tech e, na época, conversei com todos os proprietários.  Tive a oportunidade de conhecer novas marcas e seus produtos e já já vou atualizar minha lista de chocolates bean to bar brasileiros.

Não sei como foi nos outros anos do festival, mas me impressionou a proporção entre as marcas bean to bar e as que fazem chocolate a partir de outros chocolates. Aqui em São Paulo, os bean to bar ou tree to bar ainda são minoria e a maioria das boas marcas artesanais usa o chocolate “belga” como ingrediente (o chamado chocolate de transformação). Na Bahia, não, lá o principal ingrediente é o cacau deles, claro. Aqui ainda se vê muito mais bombons artesanais do que barras artesanais. No Chocolat 2017, não, a maioria era mesmo de barras.  Isso é um bom sinal para chocólatras como eu, que curte mais o sabor do cacau do que de recheios diversos cobertos de uma camadinha de chocolate.

Em termos de chocolates, eu prefiro barras que bombons, prefiro qualidade que quantidade, prefiro bean to bar que chocolate de transformação. Gosto pessoal não se discute, tá? Talvez você prefira exatamente o oposto e tudo bem, somos todos chocólatras.

 

Chocolat Bahia 2017 - chocolatesChocolates que estavam presentes lá na Chocolat Bahia

 

O que essa quantidade de marcas de bean to bar brasileiros quer dizer

Ser bean to bar não quer dizer necessariamente ter qualidade, ter sabor superior ou o contrário. Depende da qualidade do ingrediente usado, no caso o cacau.

Ser chocolate de transformação não quer dizer necessariamente ter qualidade, ter sabor superior ou o contrário. Depende da qualidade do ingrediente usado, no caso outro chocolate.

Claro, que não adianta ter a melhor matéria-prima (seja cacau ou chocolate), se o chocolate maker ou o chocolatier não tiver conhecimento e habilidade. Um cacau ruim nunca vai resultar em um bom chocolate, mas um cacau bom não é garantia de um bom chocolate, pois é preciso saber trabalhar com ele.

Do meu ponto de vista, quanto mais gente estiver fazendo chocolates bean to bar, maior vai ser a exigência na qualidade do cacau e isso só pode ser bom. A qualidade do cacau é diretamente afetada pelas etapas de fermentação e secagem dos grãos que acontecem ainda nas fazendas ou seja, na Bahia. Percebi muitos fabricantes interessados em melhorar estas práticas para que possam extrair o melhor sabor dos seus grãos. Por isso, a presença do especialista em chocolates Clay Gordon foi importante. Ele é autor do livro Discover Chocolate e do site The Chocolate Life e trabalha com isso há mais de 20 anos. Aqueles que se interessaram, puderam conversar com ele, trocar ideias e assistir à palestra dele. Muitos não fizeram isso, o que foi uma pena. Mais espertos ainda foram os que conseguiram levá-lo em visitas às suas fazendas. Sei que houve visita que ele não pôde ir por ser uma distância maior e ele tinha data para ir embora. Uma pena. Eu tive a oportunidade de ir junto com ele em 2 fazendas. Mesmo sendo só chocólatra e não chocolate maker, aprendi muito e fiz mil perguntas. Ele é muito gentil e paciente, além de conhecer muito do assunto, claro.

A palestra do Clay Gordon foi ótima, sobre chocolate artesanal, o que os americanos chamam de “craft chocolate”. Nós usamos o termo chocolate artesanal há anos para chocolates de transformação, então a tradução ao pé da letra aqui não é válida. Ele se referia aos bean to bar artesanais. Ele acha que a “monocultura de ideias” é tão ruim quanto a monocultura por si só. A diversidade é importante. Diversidade de grãos, de receitas e também de ideias. Ele ficou entusiamado com as possibilidades do chocolate bean to bar artesanal no Brasil, gostou do que viu na feira e nas fazendas, mas disse que tem bastante coisa para melhorar. A dica que deu aos chocolate makers é que procurem conhecer os grãos de outras origens, seja trazendo amostras para cá ou indo visitar fazendas no exterior. Para mim, isso faz todo o sentido.

Também assisti a excelente palestra da Luisa Abram que apresentou dados sobre o aumento do consumo de chocolates com alto teor de cacau e no formato de barra. Isto significa que o consumidor está mais exigente e já se abriu um nicho em que o chocolate segue o caminho do vinho e da cerveja artesanal.

Outra apresentação bem interessante foi a da portuguesa Goretti Silva que tem um hotel temático em Portugal construído em uma antiga fábrica de chocolate. Tudo lá é voltado para o cacau e o chocolate, desde a decoração dos quartos até o menu do restaurante. Tem museu, loja e terapias estéticas feitas com chocolate. É uma ideia genial para ser replicada em uma cidade com Ilhéus. Veja mais no site da Fabrica do Chocolate.

Enfim, vamos às fotos!

 

Chocolat Bahia 2017

Chocolat Bahia 2017

corredores lotados na Feira do Chocolate

Chocolat Bahia 2017

 

Chocolat Bahia 2017

Miniatura de barcaça de cacau na entrada

Chocolat Bahia 2017

Esculturas de chocolate feitas ao vivo

Chocolat Bahia 2017

Espaço de crianças

Chocolat Bahia 2017

Variedades de cacau da Bahia

Chocolat Bahia 2017

Variedades de cacau da Bahia

Chocolat Bahia 2017

Clay Gordon

Chocolat Bahia 2017

Chocolat Bahia 2017

Chocolat Bahia 2017

Chocolat Bahia 2017

Chocolat Bahia 2017

Chocolat Bahia 2017

 

Conclusão: Adorei ter ido. Espero ir novamente!