Semana montanha-russa: 2 dos melhores eventos de chocolate do país acontecendo na minha cidade e o Coronavirus mudando a vida no mundo todo em vários sentidos.

Já viu brasileiros se cumprimentarem sem aperto de mão, abraços ou beijos? Eita, tarefa difícil. É automático, é um prazer, ainda mais quando encontramos pessoas tão queridas como no mundo dos chocolates bean to bar.

Foto em destaque: Tunel de cacau na entrada do Chocolat Festival. É igualzinho o cacau na cabruca da Bahia, inclusive com os sons. Bem legal.

Chocolat Festival e Mulheres do Chocolate

No dia 12 de março (2020), quinta-feira à tarde foi a abertura do Chocolat Festival, como sempre super caprichado. Programação cheia de workshops, palestras e a deliciosa feira de chocolates na Bienal do Ibirapuera até domingo dia 15. Logo depois, às 19:00, era a vez do encontro das Mulheres do Chocolate. É um grupo de mais de 100 mulheres envolvidas no nicho do chocolate bean to bar, na maioria chocolate makers, mas tem também outras profissionais da área, como eu. Fui em ambos os eventos com um mix de sentimentos de euforia pelos encontros, curiosidade pelas novidades e dúvida se prejudicaria alguém eu indo lá em plena pandemia.

Enfim, fiquei pouco tempo na feira e não deu para ver tudo porque logo fomos para o outro evento, mas o que vi me encantou. Como sempre super bem organizado e lindo. Fui direto na área da Associação Bean to Bar Brasil, onde me encontrei com o Clay Gordon, especialista americano, autor do site The Chocolate Life e do livro Discover Chocolate. Também me encontrei com os chocolate makers da Associação. A área era enorme com várias marcas bacanas. Para mim, ali dentro não tinha novidade de marcas, mas de produtos. Veja alguns no final deste post. Fora dessa área, ainda tinha um monte de stands para visitar. Voltaria no dia seguinte. Só que não deu.

Resquícios do encontro que, claro, tem que ter chocolate

Coronavírus

Ao chegar em casa, antes mesmo de postar qualquer foto dos eventos, me assustei quando soube da possibilidade de ter pego o coronavirus de um amigo que havia encontrado dias atrás e que naquele momento estava com febre e resfriado.  Decidi pela auto-quarentena até ter confirmação se era ou não coronavírus. O sentimento aí foi de culpa por ter colocado os outros em potencial risco, mesmo que pequeno, já que mesmo que ele tivesse o vírus, eu poderia não ter pego. Horas de aflição, não por mim que tenho ótima resistência a gripes, mas pelos outros com quem me encontrei. E também irritação porque estava programada de apresentar a parte de degustação dos 2 minicursos bean to bar no final de semana no festival e não poderia ir. Eu já era substituta, ia ter que ser substituída. Fiquei em casa (de bode) enquanto todos estavam no festival na sexta-feira.

O dia virou, hoje é sábado e fiquei sabendo que era alarme falso, está tudo bem. Veio o alívio, e, melhor, oba! ainda dá tempo de ir no festival! Uhu! Parei. Pensei. Congelei. . . .  Acho que são dúvidas que todo mundo tem nesse momento:

  • É mesmo para se preocupar com esse vírus?
  • Não é exagero da imprensa e das autoridades?
  • Será que eu tenho mesmo que me privar de algo que quero muito, só por causa dessa coisinha minúscula?

Aí olhei em volta. Todos os grandes eventos sendo cancelados,  imagino que com perdas consideráveis: Campeonatos de futebol, fórmula 1, congressos e feiras. Faculdades e escolas dispensando alunos e mudando para aulas online, restaurantes reduzindo número de mesas para manter distância, festas particulares sendo canceladas. O governo paulista cancelou os eventos públicos artísticos, culturais e esportivos. Lembrei da culpa que senti nos últimos dias. Não quero sentir isso de novo, sabendo que posso fazer algo. E esse algo é seguir as orientações das autoridades de saúde, que incluem principalmente lavar as mãos frequentemente, não colocar as mãos no rosto e evitar aglomerações de pessoas. E um festival de chocolate é exatamente isso. Um aglomerado de pessoas colocando a mão nos chocolates e eles na boca.

Desisti de participar do Chocolat Festival

Decidi não ir mais. Triste. Vou perder as palestras que paguei e queria tanto assistir, não vou trocar ideias com amigos e colegas, nem conhecer as novas marcas de chocolates e seus criadores, nem provar os novos produtos e nem trazer novidades além das que vi no primeiro dia. E perco também o minicurso, que pelo menos o do domingo daria tempo de ir (se não for cancelado). Sinto muito. Mesmo.

O objetivo é cada um fazer o que pode para minimizar o número de infectados a fim de proteger as pessoas que estão nos grupos de risco. Nós, que não estamos nesses grupos, não vamos sofrer nada com esse vírus, mas elas podem precisar de UTI e pode não haver leito suficiente para todos. Tenho 6 pessoas muito próximas e queridas nos grupos de risco. As medidas são temporárias e não custa colaborar.

Exagerada, eu? tomara…

Sei que muitos vão dizer que eu sou neurótica. Kkk sou mesmo, não é novidade, meus filhos falam isso há anos. Mas, como diz o ditado, melhor pecar por excesso do que por falta, pelo menos nessa época de fake news. Tomara mesmo que eu esteja “over-reacting”!

Uma coisa que ficou forte na minha cabeça foi uma parte da conversa que tivemos no grupo das Mulheres do Chocolate sobre o conceito de bean to bar. Elas chamaram a atenção para o fato do conceito bean to bar ter uma preocupação social e ambiental, o que a indústria tradicional geralmente não tem.  Essa preocupação social é geralmente ligada às condições de trabalho, por causa da situação precária em várias regiões cacaueiras, principalmente na África. Acho que uma situação como essa de saúde pública mundial também é uma preocupação social. Por isso acredito que minha decisão esteja alinhada com o conceito bean to bar, esse tipo de chocolate que eu tanto gosto e falo.

Entendo que tem gente que pensa diferente e eu respeito. Acredito que cada um tem que seguir a sua consciência. Eu estou seguindo a minha.

Então desta vez, o pouco que posso mostrar são as seguintes barras que me chamaram a atenção:

Chocolates nas versões Pamonha e Romeu e Julieta da Mission Chocolate

Chocolate branco com capim-santo da Baianí

Os tree to bar da Cacau do Céu

O 100% da Jupará

Os inusitados grilo e larva de besouro  da Casa Lasevicius

O 100% e o com leite de coco da Choc

Chocolate branco com crocante de castanha da Luisa Abram

Adoçado com maçã da Labarr

Chocolate lilás (com uva) e o com melado da Cuore di Cacao

Com cupuaçu da Gallette

O Ovo de Páscoa branco da Mestiço

Chocolate de origem Brasil do francês Chapon

Chocolate de Origem Chuao (Venezuela) do francês Chapon

Acredito que essa fase vai passar logo e o próximo Chocolat Festival será um novo sucesso. Ele está programado para julho/2020 em Ilhéus.

Atualização: O evento teve seu último dia, domingo, cancelado pelos organizadores, com devolução do valor do ingresso.